domingo, 16 de dezembro de 2012

Os outros Niemeyers, por Cristovam Buarque





Niemeyer foi iluminado pelo que chamamos de talento. Não fosse seu imenso talento para imaginar o que fazer em um espaço vazio para ali construir moradia do homem, ele não teria tido o reconhecimento que recebeu em vida e que terá ao longo da história.
Mas ele não teria criado obra de gênio reconhecido se não usasse o talento de maneira inovativa, rompendo velhos padrões, sonhando com formas impossíveis de serem construídas e capazes de surpreender os que as viam e usavam ou nelas viviam.
Esse talento inovativo e sonhador não se desenvolveria sem a perseverança que nem todos talentosos têm. Foram necessários anos de trabalho para que os sonhos imaginados pelo talento se transformassem em obras.
O acaso também favoreceu a criação do mito. Não fosse a coincidência de ser contemporâneo do ex-presidente Juscelino Kubitschek e da vontade nacional de construir um novo Brasil, uma nova Capital, usando o que havia de vanguarda na arquitetura, como fazia na indústria da música e do cinema, ele teria sido um grande arquiteto, mas não “O Arquiteto do Século”.
A vida, por fora de sua obra, também foi fundamental na consolidação de seu prestígio. Tivesse ele falecido logo depois da construção de Brasília, teria sido um bom arquiteto, mas não seria o mito hoje consagrado.
Niemeyer viveu longamente e soube enfrentar os dissabores da vida com a força de um caráter firme. Enfrentou ditaduras, perda de amigos, projetos não realizados. Foi solidário, coerente e estas qualidades ajudaram na construção do mito.
Mas, lá na base, nada teria acontecido, se ele não tivesse aprendido a ler, escrever, contar e calcular. Sem escola e sem professores ao longo da vida, o talento de Niemeyer não teria aflorado.

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