sábado, 28 de janeiro de 2012

Irresponsabilidade em Obras - Paulo Moraes


Embora eu seja um Administrador trabalhei, e ainda trabalho, com esse serviço. Faço gerenciamento de obras. Sou registrado no CRA Conselho Regional de Administração do Rio de Janeiro e tenho uma empresa responsável por esses trabalhos e por mais a Assessoria e Consultoria em Administração, Finanças e Recursos Humanos. Mas não estou aqui para divulgar a minha empresa.

Vocês não imaginam as barbáries que acontecem no dia-a-dia. Algumas empresas grande de médio e pequeno porte, sempre preferem a “Lei de Gerson” (Que me desculpe o Gerson que odeia quando se fala assim).

Muitas vezes perco a concorrência porque o Diretor da Empresa alega que o preço é alto e que a sua sócia ou seu sócio não concordaram em gastar tanto. Em nova visita ao cliente vejo que a obra foi feita e com a maior cara de pau (quando posso) pergunto: - Eu perdi mesmo a concorrência? Quem ganhou?
Ele explica que decidiram contratar, com a indicação do síndico ou do porteiro daquele prédio, um pedreiro que era ótimo e o preço foi maravilhoso.
Só não fico perplexo como muito puto.

Quando o serviço é de pintura, troca de lâmpada, reparo de uma válvula de descarga, troca de carrapeta da torneira, até ai tudo bem. Essas pessoas podem fazer esse serviço porque é algo simples e não causará prejuízo se algo der errado.
Mas quando os serviços abrangem mexidas em paredes, em estruturas, no piso do andar, na parte elétrica e em mudanças estruturais de maior vulto, em hipótese alguma podemos contratar um simples pedreiro que não tem conhecimento algum de todo o processo.

Já fui questionado pelo preço ser alto e me sugeriram gerenciar a obra com um “autônomo”. Saí do processo. Temos que respeitar os profissionais das áreas. Não trabalho sem o acompanhamento de uma arquiteta e um engenheiro para obras desse porte.

Um caso que está registrado em minha memória, certamente na do Engenheiro e da Arquiteta que estavam me acompanhando na vistoria de um imóvel em uma loja no térreo de um edifício e que estávamos locando para uma agencia bancária. 
Conosco foi o Diretor Executivo a quem eu respondia e disse: - Gostei muito, mas tirem esses pilares todos porque irão atrapalhar o visual e a movimentação dos clientes...........
Rimos e perguntei a ele: - Você está brincando, certo? E ele disse: - Não. Quero que vocês tomem essas providências.
Na volta ao escritório, e longe dos meus funcionários, expliquei a ele que se eu tirasse aqueles pilares o prédio viria abaixo.

E não pensem que esse Diretor foi o único a sugerir essas “barbáries”. Tenho outros “causos” que poderia comentar, mas que não vale a pena.

Imaginem quantos prédios no Rio estão nessa situação; “engatilhados”, porque empresários não quiseram gastar muito. Imaginem os riscos que nós, nossos familiares e amigos estão correndo.

Não quero afirmar que o motivo desses três prédios desabarem foi por causa desse tipo de obra. Isso é para o CREA investigar, mas se pudesse apostaria 99% que o problema foi esse.

5 comentários:

Jorge Eduardo disse...

"O barato sai caro", acaba acontecendo em milhões de situações por ai afora. Eu mesmo já fui vítima algumas vezes desse dito popular,menos em situações de risco, desde pastilhas de freio para meu carro a exames clínicos.Concordo com Paulo Moraes: tem liguiça por baixo desse pirão.

Alberto disse...

O depoimento do Paulo é perfeito.
Gostaria de repicar os 90% da aposta para 99,8%.
Alguém paga pra ver?

Ipanema Energia disse...

Caro Paulo Moraes,
Neste assunto você é professor, em função de sua experiência. Você só não se formou academicamente em engenharia, por obra do acaso. Você é melhor que a maioria dos engenheiros, principalmente, porque sabe reconhecer as habilidades e responsabilidades de cada profissional.
Você só citou a questão do preço mais baixo ofertado por profissionais não-capacitados. E as concorrências que são decididas por questões que infringem as regras do Caráter, e se afundam nas lamas da Corrupção, independentemente, do aspecto de Qualidade Técnica?
E por onde anda o Conselho de Engenharia, antes do acontecimento dos acidentes? Apenas cobrando as anuidades, e como elas, adquirindo bonitas gravatas para aparecer no Jornal Nacional, quando os acidentes ocorrem?
Estamos diante de mais uma tragédia envolvendo pessoas. Sim, envolvendo pessoas que ainda estão lá embaixo e aquelas que já foram lá para cima. Passo lá diariamente, e me sinto muito mal.
Tragédia.
Abraços,
Cid

Brigida Abadia disse...

Paulo,
Nós que trabalhamos juntos em algumas obras teríamos realmente diversos fatos a relatar.
Como arquiteta sou responsável por todas as obras que gerencio e àquelas das quais desenvolvo somente o projeto costumo "visitá-las" sem avisar para ver seu andamento e avaliar possívies erros de execução ou a execução dos pedidos de última hora solicitados pelo cliente diretamente ao empreiteiro/pedreiro - algumas vezes pedidos surpreendentes e extremamente perigosos.
Concordo com você, provavelmente não foi somente a obra do 9º ou 10º andar que fez o prédio ruir, mas o somatório de obras irregulares executadas sem qualquer acompanhamento técnico. "Por que contratar um engenheiro ou um arquiteto se nós já sabemos o que queremos e onde queremos?" é a pergunta que muitos gestores fazem... quantas tragédias a mais serão necessárias para mudar esse pensamento?!
Abs,
Brigida

Clara disse...

Num país onde a capacidade técnica é quase sempre substituída pelo "QI", nem é surpreendente que ocorram coisas desse tipo, colocando em risco as vidas e as propriedades de tanta gente.
Falta fiscalização e punição.