terça-feira, 24 de janeiro de 2012

A Hora e a Vez do Pequeno Napoleão - Antonio Caño



Newt Gingrich deixou Mitt Romney e vence as primárias da Carolina do Sul
Foto: AP


Sem êxito em Iowa nem New hampshire, New Gingrich de frases de efeito nos debates televisivos e uns tropeços de seu maior rival, Mitt Romney, para ascender meteoricamente nas pesquisas e passar de mais dos muitos elementos extravagantes desta campanha para um sério competidor.
No caso dos anteriores já removidos da campanha, e de Rick Santorium, que fatalmente seguirá este caminho, acabou sendo imposta a lógica de eleger o mais conveniente. Com Gingrich, porém, deve-se considerar também o ingrediente pessoal que acompanha este produto singular da política americana. É um ser passional e egocêntrico, com uma vida amorosa que reflete um caráter vulcânico e até certo ponto, como governante, perigoso. Embora também pareça um intelectual e brilhante, uma das pessoas que melhor o conhece, Joe Scarborough, um velho companheiro de partido, disse que "se Gingrich é o cara mais esperto da sal, é melhor deixar a sala".
Gingrich chegou ao Congresso em 1979 como um vendaval. Numa época em que a prudência era considerada uma virtude, destacou-se por sua facilidade em falar sobre qualquer coisa. Apoiado em seus estudos como historiador, sempre recorreu habilmente ao passado para explicar uma suposta decadência americana sob governos democratas e tempos de glória quando a Casa Branca era habitada por republicanos.
Gingrich despertou por anos sentimentos contraditórios entre seus correligionários. Reconhecem sua dedicação à causa conservadora, mas temem sua verve autoritária e anárquica. Seu histórico pessoal o faz parecer antipático entre os moralistas conservadores, e a imprecisão de suas teorias econômicas o torna suspeito para os outros. Apoiou a cobertura de saúde universal - cerne da reforma promovida por Obama -, mas hoje não o faz mais.
A retificação é uma constante em sua trajetória, e ele a faz com naturalidade. Foi capaz de denunciar as infidelidades de Bill Clinton enquanto ele mesmo tinha uma amante, Calliste Bistek, com quem casou-se em 2000 (foi seu terceiro matrimônio). Sua esposa anterior, Marianne, contou recentemente em uma entrevista que, antes de separar-se, Gingrinch propôs "uma relação aberta", com espaço para outras mulheres.
Um episódio como este teria destruído qualquer político convencional mas Gingrich não é um deles. No último debate eleitoral, transmitido pela TV, após uma determinada pergunta, conseguiu revertê-la a seu favor, com uma alegação demagógica sobre a superficialidade e o sensacionalismo dos meios e comunicação. No ano passado, em uma entrevista para uma emissora religiosa, Gingrich reconheceu que fez "algumas coisas não muito apropriadas" em sua vida, mas atribuiu-as "a maneira muito apaixonada" com   a qual se dedica aos problemas nacionais.
Conseguiu mesmo evitar que seus rivais e a imprensa dessem maior destaque ao escândalo de ter cobrado US$ 1,6 milhão, supostamente por "assessoria de temas históricos", à empresa Freddie Mac que, junto à Fannie Mae, integra a raiz da bolha imobiliária de 2008. Não é um personagem confiável para o establisment. Mas nas primárias quem vota é a base, e não a cúpula, e os militantes mais conservadores foram seduzidos pela retórica deste pequeno Napoleão.

Um comentário:

Alberto disse...

Parece que o autor preparou o currículo de um candidato ao BBB.
O mais chocante para um candidato a presidente é sua relação pecaminosa com o "Freddie Mac" notório parceiro da "Fannie Mae".