NOVA YORK - Em um discurso com sinais claros da prioridade democrata para um segundo mandato, o presidente Barack Obama atacou nesta terça-feira as desigualdades do sistema tributário dos EUA, que permite aos ricos pagar uma taxa de impostos menor do que a da classe média. O tema representa uma mensagem política-chave no momento em que o país mergulha numa conturbada eleição com americanos angustiados sobre os rumos da economia.
A declaração de Obama contrastou com a apresentação da declaração de renda do pré-candidato republicano Mitt Romney, que revelou ter pago 13,9% de impostos sobre seus rendimentos anuais de US$ 21 milhões, enquanto assalariados chegam a pagar 35%.
— Milhões de americanos que trabalham duro e jogam de acordo com as regras todos os dias merecem um governo e um sistema financeiro que façam o mesmo. É hora de aplicar as mesmas regras de cima a baixo. Sem resgates, sem benefícios, sem subterfúgios — disse Obama na noite desta terça-feira, no discurso do Estado da União, feito anualmente pelo presidente dos EUA diante do Congresso.
Obama iniciou o evento político que serve para expor os rumos de seu governo lembrando que pela primeira vez em nove anos não há mais americanos lutando no Iraque e que Osama bin Laden não é mais uma ameaça. Para Obama, com os avanços em combates no exterior, chegou a hora de os EUA retomarem seu lugar como terra de oportunidades para as pessoas que fazem a sua parte. Segundo ele, "esses não são valores democráticos ou republicanos, são valores americanos". Obama inicia hoje uma viagem por cinco estados que podem ser decisivos nas eleições, como Nevada, Colorado, Michigan e Ohio, onde fará novos discursos detalhando suas propostas.
— Podemos nos contentar com um país onde um número cada vez menor de pessoas vai muito bem, enquanto um número crescente de americanos mal consegue levar a vida adiante. Ou podemos restaurar uma economia onde todos têm chances justas.
Obama quer reeditar a chamada "regra Buffett", que define uma taxa mínima de impostos para pessoas com rendimento superior a US$ 1 milhão. O reconhecimento da injustiça tributária partiu do bilionário Warren Buffett. Em 2007, ele afirmou que todas as pessoas bem-sucedidas pagavam percentualmente menos impostos do que suas empregadas domésticas. A secretária de Buffett, Debbie Bosaneck, que paga 35% de imposto sobre seus rendimentos, estava perto da primeira-dama, Michelle Obama e da viúva de Steve Jobs, Laurene Powell , no discurso. O patrão de Debbie paga só 15% em razão da alíquota menor cobrada sobre investimentos financeiros.
Desde que o movimento Ocupe Wall Street popularizou a ideia de que os 1% mais ricos do país estão sendo beneficiados, em detrimento dos outros 99%, Obama passou a enfatizar mais o tema da justiça social, principalmente em relação a impostos e à igualdade de oportunidades.
Irã: paz ainda é possível
Mas a resposta aos problemas da economia não se restringe à questão tributária. Em um país no qual muitos se ressentem do desemprego em 8,5% e do risco de perder suas casas com a execução de hipotecas, Obama enfrenta o desafio de convencer os eleitores de que é a pessoa certa para, em um segundo mandato, construir bases mais sólidas para a retomada do crescimento econômico.
As propostas incluem ainda isenções fiscais para empresas que criarem empregos nos EUA, estímulos para refinanciamento de hipotecas, incentivos para energia limpa, estímulos para a formação educacional e uma força-tarefa para monitorar violações comerciais da China.
— Pensem na América que está ao nosso alcance: um país que lidera o mundo na educação de seu povo, que atrai uma nova geração de empregos de alta tecnologia e alta remuneração. Uma economia feita para durar, onde o trabalho duro compensa, onde a responsabilidade é premiada — disse Obama.
Poucos apostam que o presidente será capaz de levar os projetos adiante num Congresso bastante dividido. Segundo pesquisa do instituto Gallup, apenas 6% dos americanos esperam a aprovação de mais da metade das propostas. Mas ele advertiu os republicanos de que não aceitará passivamente a obstrução de suas propostas.
— Pretendo combater a obstrução com ação, e me oporei a qualquer tentativa de retornar às mesmas políticas que nos trouxeram a esta crise econômica — disse Obama em seu terceiro discurso do Estado da União, que os republicanos esperam que seja o último.
Sobre o Irã, o discurso de Obama não descarta nenhuma hipótese para impedir que o país obtenha uma arma nuclear, mas que uma solução pacífica ainda é possível.
Antes do discurso, John Boehner, republicano que preside a Câmara, disse que eram apenas "novos arranjos de políticas inúteis". Já Mitt Romney convocou a imprensa para uma réplica antecipada:
— O essencial é que façamos deste o último discurso do Estado da União de Barack Obama.
Romney acusou Obama de construir um histórico de "dívida, declínio e desapontamento", usando como cenário uma fábrica fechada, em Tampa, na Flórida, para ilustrar o desemprego. Para ele, o tom do discurso do presidente revela a "retórica divisiva de um comandante desesperado".
Um comentário:
Sem dúvida o discurso do Obama é polêmico mas creio que perfeitamente defensável por seus correligionários.
A reação negativa dos Republicanos foi adequada tendo em vista o cunho eleitoreiro de seu conteúdo.
O importante foi, ao partir em campanha, definir claramente os entraves que impedem soluções imediatas aos grandes problemas nacionais assim como injetar uma dose de otimismo em período de crise.
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