domingo, 15 de janeiro de 2012

Futebol tem Lógica


Como entendo pouco de Futebol – não acompanho muito os jogos –, escrever sobre um tema que tem tantos bons comentaristas, não deixa de ser um risco. Os motivos pelos quais o faço, são: o histórico jogo em que o Barcelona pôs o glorioso Santos no “quadrado”, os mimos que estão destruindo o jogador Neymar, e a mediocridade e irresponsabilidade em que está mergulhado o futebol brasileiro.
Não assisto replay de jogos de futebol. Mas o fiz nesse jogo memorável porque passei minha vida ouvindo que “futebol não tem lógica”. Esse jogo mudou minha visão. Pela primeira vez, excluindo os jogos da Seleção Brasileira de 70, e de raras equipes do passado, vi, digamos, lógica num jogo recente. Tudo aquilo que eu condenava em quase todas as partidas de futebol que assisti nos últimos anos, a saber: chutões para o alto, “bolas na fogueira”, faltas desnecessárias e passes sem olhar, não ocorreram na equipe do Barcelona. Ou seja, quem joga dessa forma evita zebra. Futebol tem lógica!
Vi o time do Barcelona jogando de forma absolutamente consciente e responsável. Os jogadores envolvidos um com outro como se tivessem fazendo um trabalho de alta complexidade, despidos de qualquer ambição que não fosse a de trabalhar em conjunto. Bola no chão, passes curtos, dribles seguros, tudo em pequenos espaços deram a tônica do jogo. O gol, objetivo maior, não parecia importante, e sim, jogar em grupo. O gol era consequência. Fizeram quatro. Deram um espetáculo!
O acuado Santos, como se estivesse se defendendo de uma massacre – o placar era para ser de 8 X 1 – ficou atarantado. Borges, o artilheiro do campeonato brasileiro, parecia ter sido atropelado, tal o seu estupor. Neymar achou que estava jogando contra o Botafogo e tentou fazer graça. Em vão. Deixou como lembrança, para o resto do mundo, seu ridículo corte de cabelo, que ele usa para dizer que seu time é formado de dez + ele.
O individualismo do “garoto” Neymar – o chamam assim – não funciona no jogo coletivo do Barcelona. A máquina publicitária exagerada está atrapalhando esse jovem, que não é mais um menino. Já tivemos muitos precoces como ele. E nenhum deles foi mimado, endeusado, estragado, com estão fazendo com esse rapaz. Neymar está sendo usado para mascarar uma das fases mais medíocres da história do futebol brasileiro.
Dizer que o Santos estava jogando contra “um time de outro planeta”, para justificar o vexame, é arroubo de narrador. O futebol brasileiro já há muito tempo não ganha de ninguém. Vencer de 1 X 0, seleções da África, América Central e Ásia, no sufoco, tem sido o tom do nosso futebol. E o gênio do “menino” Neymar” é para uso doméstico, ele não fez nada em jogos internacionais. A Copa América foi um vexame colossal.
A comunidade do futebol precisa conversar, 2014 está aí! Derrubar João Havelange e Ricardo Teixeira é, infelizmente, impossível. A FIFA e a CBF não são empresas publicas. Um Estado atolado na corrupção como o brasileiro não tem moral para derrubar essa gente.
O que vejo é o jeitinho brasileiro desmascarado no resto do mundo. Inverteu-se a ordem das coisas, no momento em que a Espanha enfrenta uma cruel crise econômica seu futebol torna-se o melhor do mundo. O Brasil decola na economia e afunda no Futebol. Se esse for o preço a pagar para avançarmos, que seja. Já temos glórias demais no futebol, podemos esperar mais um pouco. Chega de o futebol ser uma máscara para o Brasil. Neymar é o exemplo maior da nossa falta de espírito comunitário que pensamos ter. Parece ter chegado a hora de agirmos como uma coletividade, a única forma de romper com o vergonhoso status de sociedade mais desigual do planeta.
Neymar está certo, aprendemos uma lição. E não foi somente de futebol!
Theófilo Silva é articulista colaborador da Rádio do Moreno.

Um comentário:

Alberto disse...

Mesmo sem entender de futebol está claro o motivo da situação do nosso futebol. O jogo coordenado de passes e deslocamentos do Barça é fruto do treinamento (muito trabalho).
A indigência do Brasil decorre da falta de treinamento (ausência de trabalho)que nos deixa como único recurso o jogo individual improdutivo dos jogadores daqui.
A organização do futebol brasileiro a partir dos anos 30 foi devida à importação de técnicos estrangeiros.Hoje devemos tentar esta alternativa para superar a mediocridade de nossos técnicos, sem exceção.