domingo, 8 de janeiro de 2012

Ciro, o Grande e os Bárbaros - Theófilo Silva


ReproduçãoO Ceará conheceu a barbárie esta semana. Hordas de bandidos movendo-se a pé, de bicicleta ou em motos – quadrilhas – roubando e pilhando levaram pânico a população do estado. Fortaleza, a capital, foi a mais afetada pelos marginais. Parte do comércio teve que fechar às portas, houve toque de recolher, e o medo tomou conta de todos. Algumas cenas lembraram o Iraque por alguns momentos. Não estou exagerando. Assisti vídeos com cenas de violência e linchamentos, que pensava impossíveis no Brasil de hoje. Tudo isso a céu aberto e à luz do dia.
Tumultos e desordens não são incomuns nas grandes metrópoles. Paris, Londres, Seul, Nova York já passaram por isso. Sem falar no Rio de Janeiro. A onda de saques e violência que ocorreu em Londres recentemente, com mortes, depredações, incêndios e saques é um dos maiores exemplos. Portanto, é impossível que cidades do mais desigual país do mundo, o Brasil, estejam imunes a esses lamentáveis acontecimentos.
Mas essas ocorrências sinistras nas cidades que citei, em sua maioria, são localizadas, não se estendem por todo um estado e muitas são evitadas previamente. O que não exime seus governos de culpa pelos erros cometidos na administração da crise. Tanto que, quando isso ocorre, a cúpula de segurança desses governos é afastada.
O que aconteceu no Ceará é um desses casos em que as autoridades foram vacilantes e incompetentes em evitar a tragédia que durou seis dias. A desgraça ocorreu porque a polícia militar estava em greve. Como que um serviço essencialíssimo pode parar de funcionar em um grande estado? Parou porque o governo cearense não adotou nenhuma estratégia de conversação.
O preço pago foi alto. Assustado com a proporção que a coisa tomou, o grau de violência e do desgoverno que tomou conta do estado, o então desaparecido governador Cid Gomes concedeu quase tudo que os grevistas exigiram. Sua leniência criou um líder, o capitão deputado que liderou a greve. Em seguida, a polícia civil também entrou em greve. Eis o preço da incompetência. Imagino o que Cid não deve ter ouvido de seu patrono e irmão, Ciro.
O Ceará tem uma estrutura de poder viciada. O que não é privilégio dos Ferreira Gomes. A prefeita de Fortaleza segue a mesma trilha. A longa vaia que ela levou da multidão na festa de Reveillon foi ouvida pelo Papa, em Roma. No entanto, ela só viu aplausos. Esse alheamento dos governantes cearenses tem a ver com o grau de submissão a que estão sujeitos os outros poderes do estado, e da imprensa controlada por verbas públicas, que age como se fosse um departamento do governo.
Outra coisa que deve ser observada e lamentada desse episódio, embora não inesperada, é que o pânico da população foi ainda maior, porque os perversos que habitam o Facebook (redes sociais) postaram boatos e vídeos falsos, semeando uma desgraça maior do que o que ocorria de fato.
Para mim, o que ocorre no Ceará tem a ver com o “salto alto” em que subiram os Ferreira Gomes. Já disse isso aqui. O coronel Ciro Gomes, e eu o chamo de coronel, porque, infelizmente, ele tem se comportado como um. Sua arrogância, seu destempero verbal, o enorme poder que ele deu a seus familiares e amigos o distanciaram da realidade. Ele tem tanta força no Ceará, que já não enxerga mais o que ocorre ao seu redor. Virou uma espécie de Pavão.
Esse é o preço quando se acha que está no Olimpo: cegueira. Ocorreu o que os gregos diziam: “quando os deuses querem nos destruir, eles nos tornam arrogantes”. O prejuízo político dos Ferreira Gomes é incalculável, e a fatura vai ser paga nas eleições municipais. A outra policia continua em greve.

Um comentário:

Alberto disse...

Será que estamos assistindo ao transplante da Primavera Árabe para um Verão Nordestino?