Carlos Alberto Sardenberg, O Globo
A presidente Dilma tem dito que seu governo é pró-mercado, mas, na prática, suas políticas destilam forte hostilidade ao mercado. No primeira coluna sobre o tema, publicada aqui na quinta passada, comentamos como isso foi feito com os bancos, a partir do nobre objetivo de derrubar juros.
Fez o mesmo com as elétricas. Assim como reclamavam dos juros, todos os interlocutores da presidente também protestavam contra o preço da energia, o mais alto do mundo, sendo quase 50% de impostos (federais e estaduais).
Dilma promete a redução, cortando um pouquinho de encargos e impostos e um poucão da rentabilidade de empresas cujas concessões estão vencendo nos próximos anos. Vai pagar muito menos do que as empresas esperavam por conta de ativos ainda não amortizados e impor uma tarifa lá embaixo. Ou seja, jogou no chão os ativos e a rentabilidade das companhias envolvidas.
E sem qualquer alternativa. Disse às empresas: quer, quer, não quer, aguente as consequências.
Os acionistas minoritários privados da Eletrobras, uma estatal federal, reclamaram. As ações da estatal estão virando pó, o que faz inteiro sentido. As pessoas haviam comprado as ações com base em dados informados e expectativas formadas pela própria companhia. Se, de um dia para outro, ativos que a estatal dizia valer R$ 30 bilhões não valem nem a metade, se os lucros esperados transformam-se em prejuízo, você trata de se livrar desses papéis, não é mesmo?
Já no Palácio do Planalto, conforme informou Claudia Safatle em sua bem informada coluna de 30 de novembro no “Valor”, o pessoal acha que se trata de ataque especulativo do mercado contra a Eletrobras.
Para completar a hostilidade, o secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, Márcio Zimmermann, atacou as três elétricas estatais estaduais que não aceitaram os termos do governo federal, dizendo que ficaram ao lado dos acionistas contra o povo.
Ou seja, acionistas são capitalistas predadores.
3 comentários:
Mais uma vez Sardenberg acertou em cheio.
Ainda há pouco, relendo uma coletânea de artigos do Roberto Campos, encontrei um diálogo que ele manteve com um dos membros da comitiva do então Presidente da China Jiang Zemin (o que sucedeu a Deng Tsiao Ping e que foi o primeiro Presidente da China Comunista, com mandato de quinze anos)que se encontrava em visita a Brasília, pouco antes da virada do século. Perguntado sobre a diferença entre os regimes dos dois países, Campos respondeu que a China é um país pseudo comunista que na realidade é criptocapitalista e o Brasil é pseudo capitalista e na realidade criptosocialista.
Como diz Alberto, mais uma vez Sardenberg - e o grande Campos - estavam certos!
O Carlos Eduardo deu o fecho de ouro ao artigo do Sardenberg.
A kriptonita acaba com o Super Homem e o criptosocialismo ainda acaba com o Brasil.
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