terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Coração e folhas caídas! - Helio Chaves


 CHAVES

Imagem extraída da internetManoel trabalha num hotel de uma grande cidade das sete da noite às sete da manhã. Certo dia, José, um colega de trabalho que o renderia liga e pede a Manoel que trabalhe para ele no dia seguinte, porque tinha um compromisso inadiável. Mesmo sendo cansativo Manoel aceita o apelo do amigo. Liga para Ana, sua mulher, avisando que não voltaria para casa na manhã seguinte, pois iria dobrar no serviço para ajudar o amigo.
A esposa compreensiva, como sempre, apesar de saber que Manoel seria sacrificado por tantas horas de trabalho, não criou caso. Ainda naquela noite, José liga novamente para Manoel e diz que o compromisso havia sido cancelado, e que, portanto, Manoel não precisaria trabalhar em seu lugar. Manoel ficou feliz e a primeira coisa que veio a sua cabeça foi Ana, mas não quis ligar avisando que iria para casa na manhã seguinte devido ao adiantado da hora.
No dia seguinte, como sempre fazia, Manoel pegou o ônibus de volta para casa. A viagem parecia não ter fim. Ele chega em casa por volta das oito horas. Nas mãos as chaves e na cabeça a intenção de surpreender Ana. Abre a porta lentamente, tira os sapatos para não fazer barulho e assim não despertar a sua amada. Passos lentos pelo corredor, leva-o rumo à alcova com um sorriso nos lábios e cheio de amor para dar. Vira a maçaneta da porta do quarto bem devagar e, surpresa!
Sua Ana esta lá, adormecida, linda e tranqüila com a cabeça repousada no peito de um homem que Manoel jamais havia visto. Os amantes totalmente nus, com os corpos enroscados um no outro, dormiam como anjos. Foi um choque. Sem chão, Manoel volta para a sala. Pensa, repensa, coça a cabeça atordoado e vai para a cozinha. Ele não sabia o que fazer, a cena que presenciara passava como flash por sua mente.
Rodou como peru bêbado pela casa por alguns segundos e tomou a difícil decisão: pega uma vassoura de palha, dessas de varrer quintal, abre a porta e sai. No terreiro folhas de uma árvore enorme espalhadas pelo chão. Ele Varre aqui, varre ali juntando-as num canto do terreiro.
De repente, sai o hospede intruso e indesejado, que ao ouvir o barulho do lado de fora da casa tenta fugir com parte da vestes nas mãos. Frente a frente marido e amante ficam petrificados por eternos segundos.
Finalmente o Don Juan toma a iniciativa. Apressadamente passa por Manoel rumo ao portão e diz: Ôpa!
E Manoel? Bem... Manoel pego de surpresa com a atitude do outro responde: Ôpa!
Meses depois Ana o abandona e vai...
Manoel..."Tornei-me um ébrio e na bebida busco esquecer.
Aquela ingrata que eu amava e que me abandonou. 
Apedrejado pelas ruas vivo a sofrer. 
Não tenho lar e nem parentes, tudo terminou... 
Só nas tabernas é que encontro meu abrigo. 
Cada colega de infortúnio é um grande amigo, 
Que embora tenham, como eu, seus sofrimentos, 
Me aconselham e aliviam o meu tormento..." 
(O Ébrio/Vicente Celestino)
*História verídica e nomes fictícios. Qualquer semelhança é uma mera coincidência.
Hélio Chaves é jornalista e colaborador da Rádio do Moreno.

Um comentário:

AAreal disse...

Se todos fizessem como Manoel, abrir tabernas seria o melhor negócio do mundo.