quarta-feira, 15 de julho de 2009

Para Distrair as Piranhas - Luiz Garcia

No tempo antigo, quem entendia de fazenda sabia o que era um boi de piranha. Para quem nunca ouviu falar: quando uma boiada precisava atravessar um rio conhecido como piranhudo, os vaqueiros levavam o boi mais velho da tropa para um ponto rio abaixo, sangravam o coitado e o jogavam na correnteza.
As piranhas todas corriam para saborear o presente; o resto da tropa cruzava o rio em segurança.
Respeitadas óbvias diferenças, e sem querer faltar com o respeito, está meio que parecendo que o pessoal de Brasília está tentando fazer coisa parecida com o senador José Sarney.
Claro, essas comparações nunca são perfeitas. Afinal de contas, os bois de piranha originais eram perfeitamente inocentes de qualquer abuso ou malfeitoria em favor dos seus próximos. E o senador, maranhense por nascimento e amapaense por conveniência, jamais tentou, nem mesmo para constar, estabelecer para o Legislativo, por afirmações ou exemplos, normas de comportamento e respeito pelo dinheiro público, que evitassem, ou ao menos minorassem, o feio espetáculo que se tornou público nos últimos tempos.
Ele é o pior dos culpados ? É difícil estabelecer padrões e critérios num comportamento generalizado e que vem de longe. Certamente é o mais importante de todos eles, por força de sua posição atual na Casa e de sua condição de parlamentar veterano.
Muitas coisas podem ser ditas a seu respeito - mas não que seja um maria-vai-com-as-outras. Merece reprovação, e a punição que as leis do país determinam. Ele e quem mais andou abusando de benesses e vantagens supostamente criadas para beneficiar o bom exercício dos mandatos, e na verdade usadas, largamente e há muito tempo, para dar vida mansa e boa a parlamentares e seus próximos.
Seja como for - e a turma aqui fora espera que seja como deve ser - nas últimas semanas José Sarney tem sido tratado, por políticos e com a mídia indo atrás, como o grande vilão na fita em série sobre estripulias no Senado e no Legislativo em geral.
O perigo disso está em que se jogue o ilustre boi de piranhas na correnteza - e o resto da manada siga em frente com o festival de benesses. Naturalmente, e por algum tempo, com alguma medida de discrição e comedimento, as piranhas da mídia nem vão notar.

3 comentários:

AAreal disse...

Muito bom.

Alberto del Castillo disse...

Em seu livro, Deus:Um Delírio, o biólogo Richard Dawkins diz ser impossível debater seriamente com pessoas que disfarçam suas verdadeiras opiniões ao se colocarem atrás do biombo da conjunção adversativa "mas".
Afirmações como " sou ateu mas.." "acredito em Deus mas.." "Sarney é corrupto mas.." não podem ser levadas a sério por quem busca a verdade.

G. Schnellmann disse...

vamos jogar a boiada toda. Tá tudo bichado. Vamos (será possível?)arranjar outra melhor.