terça-feira, 2 de junho de 2009

Dilma Vai Bem - Ricardo Noblat






Os médicos que cuidam da ministra Dilma Rousseff dizem que ela tem 90% de chances de se curar de um câncer linfático até o fim de setembro próximo. Portanto, até lá, a sucessão de Lula permanecerá em banho-maria. O principal efeito colateral do tratamento que combate o câncer de Dilma foi a morte da proposta de terceiro mandato para Lula.
Relembre algumas coisas ditas por Lula a respeito: "Nada é impossível, mas não tem hipótese. É brincar com a democracia. Eu fui eleito de acordo com a legislação existente" (02/03/2007). “Terceiro mandato? Nem nos braços do povo” (26/08/2007). "Sou contra o terceiro mandato. Mais do que ético, é um valor democrático” (24/03/2008). “Pobre do governante que começa a achar que é insubstituível ou imprescindível. Está nascendo, dentro dele, uma pequena porção de autoritarismo ou de prepotência” (11/04/2008).
Por que apesar de tais afirmações prosperou a suspeita de que Lula alimentava o sonho do terceiro mandato? Primeiro porque em 2007 ele sondou, sim, governadores e auxiliares sobre a idéia. Segundo porque foi dúbio em diversas ocasiões. Relembre algumas: “Cada um fala o que quer. Não vou entrar nesse debate porque tenho coisa mais séria para fazer" (02/04/2008). “As pessoas preocupadas com o terceiro mandato são as que não achavam ruim quando os militares ficaram 23 anos no poder” (11/04/2008).
A mais recente pesquisa Datafolha conferiu a Lula o mesmo grau de popularidade que ele tinha em novembro último antes do agravamento da crise econômica. Quase oito em cada 10 brasileiros aprovam o seu desempenho. O governo é considerado ótimo ou bom por 69% dos entrevistados. Mas a pesquisa sugere o desgaste que Lula enfrentaria se fosse para o pau pelo terceiro mandato. O país está dividido entre 47% que querem a permanência de Lula e 49% que não querem.
A taxa de aprovação do governo é 22 pontos maior que o apoio ao terceiro mandato. E 30% dos que se dizem eleitores de Lula se opõem a uma nova candidatura dele em 2010.
Contudo, o que de fato enterra a proposta do terceiro mandato é o calendário. Para que pudesse valer em 2010, ela teria de ser aprovada na Câmara, no Senado e em consulta popular até setembro próximo. É escassa a maioria de votos do governo no Senado. Uma oposição sem discurso contra o governo finalmente encontraria um. Ministros do Supremo Tribunal Federal rejeitam a proposta. E tem a doença de Dilma. Os médicos dirão em setembro se ela está curada. Como antes disso falar em terceiro mandato ou em novo nome de candidato?
O publicitário João Santana, responsável pelo marketing da campanha de Lula há dois anos, pediu a ele: “Me entregue a Dilma em junho do próximo ano com 25% das intenções de voto e deixe o resto comigo”. Dilma está com 16% na pesquisa Datafolha. Cresceu cinco pontos de março para cá. A diferença entre ela e José Serra (PSDB) diminuiu de 30 para 22 pontos. Serra ficou com os mesmos 38% que tinha em março de 2008 quando Dilma não passava de 3%. O pedido feito por Santana a Lula deverá ser atendido antes do prazo.
Enquanto isso, a oposição... Ela só pontifica – e mal – no Congresso. Parece não existir fora dali. Mexe-se quando a imprensa denuncia mazelas do governo. O lógico seria o contrário como ensinou o PT no passado. Está paralisada pela indefinição do PSDB quanto ao candidato à vaga de Lula – Serra ou Aécio Neves. Enfim, o brasileiro vê de um lado uma candidata que promete dar continuidade ao governo mais popular dos últimos 50 anos – e do outro lado nada vê.

2 comentários:

AAreal disse...

Ivanildo, acho que o PSDB está aguardando saber quem será o adversário a ser batido. É uma boa estratégia.

Alberto del Castillo disse...

Enquanto o Lula mantiver mais de 60% de aprovação do seu governo, o terceiro mandato é uma possibilidade real e imediata. O culto à personalidade em nosso país criou aberrações como Getúlio Vargas, Janio Quadros e Fernando Collor. Lula seria apenas a mais nova versão da volta de D. Sebastião da Batalha de Alcacer Quibir.