sábado, 8 de maio de 2010

Dilma, Marina e Serra


- Os principais pré-candidatos à Presidência - José Serra (PSDB), Dilma Rousseff (PT) e Marina Silva (PV) - se enfrentaram nesta quinta-feira pela primeira vez na pré-campanha, num debate marcado pela cordialidade entre os três, pelas promessas para prefeitos e pelos acenos do tucano para os verdes, o PP do senador Francisco Dornelles e o que Serra chamou de PMDB histórico. Reunidos pela Associação Mineira de Municípios, em Belo Horizonte, Serra, Dilma e Marina defenderam o entrosamento entre as legendas, além de uma melhor relação entre União, estados e municípios, principalmente em relação à divisão dos recursos arrecadados com tributos.
Só Marina foi mais incisiva e, apesar de elogiar os adversários, criticou as concessões feitas pelos partidos de Serra e Dilma quando assumiram o poder.
- Temos que apostar na ética dos valores, capaz de colocar os interesses do país acima dos interesses conjunturais do meu partido, do partido da ministra Dilma, do partido do governador José Serra. O PSDB tentou governar sozinho e acabou ficando refém do que havia de pior no Democratas. Nós do PT tentamos governar sozinhos, sem conversar com o PSDB, e acabamos ficando reféns do que havia de pior no PMDB - disse Marina, que deixou o PT para ingressar no PV.
Serra surpreendeu Dilma ao responder:
- Vou dizer o seguinte, Marina. Se, depois da campanha, eu for eleito, vou querer, e pode parecer uma heresia, viu Dilma, tanto o PT quanto o PV no governo. Em função de objetivos comuns. Com base no programa. Nada de relação pessoal. A gente deve maximizar forças, aumentando a representatividade dos setores políticos - disse Serra, em meio a aplausos.
Créditos para Marina, Dornelles e o PMDB
Nas considerações finais, o tucano fez questão de dar quatro "créditos": para Marina, para Dilma, para Dornelles - cotado para vice na sua chapa - e para o "PMDB histórico".
O tom de conciliação também marcou parte do discurso de Dilma, que destacou o fato de o governo Lula ter dado isenção no repasse de recursos para municípios.
- Jamais olhamos filiação partidária. Jamais olhamos adesão de prefeito àquele ou àquele outro partido, àquela outra proposta de governo. Nós nos pautamos pelo respeito - disse ela, que chegou a ler um texto na abertura, sempre destacando o que considera avanços da gestão Lula.
Outros pontos em comum marcaram os discursos dos pré-candidatos no debate. Um deles foi a defesa da necessidade de reforma tributária no país, com ênfase na redistribuição do bolo tributário para evitar que os municípios fiquem reféns dos repasses do governo federal.
Mais uma vez, Marina foi mais incisiva sobre a questão e defendeu a criação de uma nova constituinte para tratar de "reformas estratégicas", incluindo a tributária.
- É preciso tentar a constituinte exclusiva para que essas reformas sejam realizadas. Para que quem for eleito consiga fazer as reformas necessárias - ressaltou.
" É preciso tentar a constituinte exclusiva para que essas reformas sejam realizadas "
Serra defendeu redução automática do IPI para incentivar a atividade econômica em caso de nova crise, como a iniciada em meados de 2008, e mecanismos que impeçam os municípios de arcar com a maior parte das perdas com a queda nos repasses do Fundo de Participação dos Municípios.
- O governo federal procurou compensar as perdas. Mas elas foram de R$ 3,5 bilhões e o governo federal passou R$ 2 bilhões para os municípios - disse o tucano, que classificou o episódio de "benefício com chapéu alheio". - Devemos criar uma forma de reposição automática das perdas do IPI. Mas não me pergunte qual é a forma.
Dilma rebateu o tucano:
- Impedimos que a crise afetasse os municípios mineiros. Quando tivemos que reduzir o IPI e o PIS/Cofins, e percebendo, junto com os prefeitos, que implicaria perdas significativas de arrecadação, repusemos as arrecadações das prefeituras no maior nível de receita de 2008. Pré-candidatos responderam perguntas iguais
Durante o evento, os três candidatos responderam a quatro perguntas, iguais para todos, e não puderam fazer questionamentos entre si. Uma das questões era sobre os royalties do petróleo, principalmente da exploração na área do pré-sal. No entanto, os três evitaram se aprofundar no assunto e preferiram se concentrar em discursos sobre royalties da mineração - diversos prefeitos na plateia são de municípios em áreas de extração mineral. Hoje, esse repasse é de 2% do faturamento líquido das siderúrgicas.
- Os royalties devem beneficiar o Brasil no conjunto. Não pode pegar um negócio que está rolando e falar: não tem mais. Fecha a cidade. Deve se fazer uma análise e elaborar um critério geral - avaliou Serra, dando como exemplo Campos (RJ), antes de desviar o assunto para a mineração.
" Nunca deixamos de dialogar. Em nenhum momento, reprimimos a marcha dos prefeitos "
Dilma e Marina seguiram o mesmo caminho e preferiram discutir um assunto próximo da plateia.
- É uma safra que só dá uma vez. Não pode ser apropriada por poucos. Deve gerar riqueza para o povo de Minas - disse Marina Silva. Ela fez uma avaliação crítica sobre o uso do petróleo e resumiu o comentário sobre os royalties à defesa de que parte deles deve ficar nos municípios e estados onde estão os poços, mas outra parte "pode sim ir para todo o país".
Dilma foi evasiva - "concordo com Serra no que se refere a royalties da mineração" - e preferiu defender o governo Lula, principalmente a segunda fase do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 2), o Minha Casa, Minha Vida e o Bolsa Família. E defendeu a ampliação do programa.
- Nunca deixamos de dialogar. Em nenhum momento, reprimimos a marcha dos prefeitos. Pelo contrario. Discutimos sempre de forma federativa e republicana.

2 comentários:

alberto disse...

Graças a Deus a discussão de uma reforma tributária chega aos palanques.
Nem tudo está perdido.

Saulo disse...

Lamentavelmente, caro Alberto, não tenho como concordar com seu otimismo. Fala-se em reforma tributária sei lá desde quando mas nada saiu do papel.