Doa a Quem Doer

Segundo Odair Cunha (PT-MG), investigação será feita "doa a quem doer"

O deputado Odair Cunha (PT-MG)AGÊNCIA CÂMARA

BRASÍLIA – O relaror da CPI do Cachoeira, deputado Odair Cunha (PT-MG) disse nesta terça-feira que o momento da convocação do bicheiro vai depender, primeiro, da análise dos documentos. Odair Cunha disse que a convocação de Cachoeira ficará mais para frente.

O nome de Odair Cunha como relator foi anunciado em reunião da bancada do PT realizada na manhã desta terça-feira . ACPI do Cachoeira, investigará a relação do contraventor Carlos Augusto Ramos com políticos e empresas. O petista é considerado homem de confiança do Palácio do Planalto, tendo sido relator na Câmara da PEC que prorrogou a chamada DRU, mecanismo que permitiu o uso livre de 20% das receitas arrecadadas pelo governo. O senador Vital do Rêgo (PMDB-PB) já aceitou o convite para presidir a comissão.- O Cachoeira não será o primeiro, mas não estou o escalando como o último. Para ouví-lo, temos que ter uma noção melhor dos fatos, analisar os documentos - disse Odair Cunha, afirmando que a CPI ainda terá que ter acesso aos documentos.

O deputado deixará o cargo de vice-líder do governo na Câmara. Odair confirmou Ao GLOBO que foi comunicado deste fato pelo líder do governo na Casa, deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP). O petista disse que deve formalizar sua saída nesta quarta-feira.

- O líder Chinaglia me ligou e me avisou - disse Odair Cunha.

Em sua primeira entrevista como relator da CPI do Cachoeira, Cunha disse que a investigação será "séria". Perguntado sobre o risco de a CPI atingir o governo, diante das informações envolvendo a empresa Delta, que é a maior empresa dentro do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e de terem aparecido nomes ligados ao partido e ao governo nas gravações, o relator disse que a investigação será feita "doa a quem doer".

- Todos nós temos relação com o governo da presidenta Dilma. mas temos clareza de que estamos investigando o Carlinhos Cachoeira e suas relações. Não de trata de uma investigação que, necessariamente, vá para cima do Palácio do Planalto ou para cima de qualquer membro do governo. Queremos investigar o fato determinado, que originou a CPMI.Se no curso das investigações, a partir dos indícios e das provas, vamos produzir a investigação doa a quem doer- disse Odair Cunha, ao responder a pergunta sobre um possível conflito de interesse entre o fato de ele ser vice-líder do governo na Câmara e agora relator da CPI que poderá ter que investigar integrantes do governo Dilma.

Odair Cunha disse que é tão fiel quanto qualquer outro petista.

- Vamos produzir uma investigação séria, serena e que realmente identifique esse poder paralelo que se instalou a partir das relações do Carlos Cachoeira.

O petista adiantou que agora irá definir o cronograma de trabalho com o senador Vital do Rêgo, presidente da CPI. As convocações serão analisadas a partir dos documentos a serem analisados.

Além de Cunha, o PT terá como titulares da CPI os deputados: Cândido Vaccarezza (SP), ex-líder do governo na Câmara, e Paulo Teixeira (SP), ex- líder do PT na Câmara. Como suplentes estão sendo indicados o Dr. Rosinha (PR), Sibá Machado (AC) e Luiz Sérgio (RJ). A comissão foi criada na semana passada, com as assinaturas de 396 deputados e 72 senadores. Trinta e dois parlamentares vão integrar a CPMI, sendo 16 deputados e 16 senadores, com igual número de suplentes.

Na reunião, a bancada discutiu também sobre o encaminhamento para a votação do Código Florestal previsto para esta terça-feira.

Comissão está em boas mãos, diz líder do governo

O líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), disse nesta terça-feira que a CPI Mista do Cachoeira "está em boas mãos", ao analisar a escolha do deputado Odair Cunha (PT-MG) para a relatoria. No fim do evento do PAC Mobilidade Grandes Cidades, no Palácio do Planalto, Chinaglia afirmou que o governo não discutiu esse assunto.

- Coube à bancada do PT ter a relatoria. O líder Jilmar Tatto (PT-SP) foi quem fez todas as tratativas, mas eu acompanhei à distância. Qualquer um dos nomes que o líder Jilmar escolhesse, a mim não cabe nenhum tipo de comentário. A única coisa que eu posso dizer é que o Odair é um parlamentar, apesar de jovem, já está no terceiro mandato. Então está em boas mãos. Não, o governo não tem opinião a esse respeito. O governo nunca discutiu isso - afirmou Chinaglia.

Para o líder, não há risco de a CPI respingar no Palácio do Planalto, embora a construtora Delta, envolvida no esquema do bicheiro Carlinhos Cachoeira, seja uma das principais empreiteiras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

- Não vejo por quê. Estamos bastante seguros do tipo de governo que a presidente Dilma (Rousseff) está fazendo. Não houve um movimento nosso no sentido: faça a CPI ou não faça a CPI. Foi uma decisão dos partidos. A CPI foi instalada para investigar Cachoeira e suas atividades ilícitas, o suposto envolvimento de um senador (Demóstenes Torres), a suspeição de envolvimento do Estado e de agentes privados. A questão central desta CPI é identificar até onde vai esse tipo de ramificação criminosa. Se necessário ir além nas investigações, ao final, o Ministério Público vai fazer, porque todo o material da CPI vai para o Ministério Público - disse Chinaglia.

Para ele, "fazer qualquer especulação onde vai bater é exercitar a bola de cristal". O líder disse que não gostaria de fazer "pré-julgamento". Em relação à construtora Delta, Chinaglia disse que é preciso verificar se houve ou não processo licitatório, quem conduziu, em que condições ganhou, se houve aditivo.

- Tem aí toda uma homilia de hipóteses, que vamos deixar para a CPI - disse.