O jornal de domingo anotou uma interessante consequência indireta das recentes revelações sobre o prestígio político e administrativo do bicheiro Carlinhos Cachoeira no planalto político do país: elas ajudam a impedir qualquer tentativa de legalização do jogo no país.
A razão é simples, mas poderosa: se mesmo com cassinos e bingos na ilegalidade um contraventor como Cachoeira tem a força política que ele tem, não é difícil imaginar o crescimento de sua influência se sua principal fonte de renda for legalizada. Os defensores da legalização têm um único argumento aparentemente razoável: a jogatina não deixou de existir com a proibição.
Nas ruas de qualquer grande cidade, não faltam os chamados apontadores, que anotam — num sistema de impecável honestidade — as apostas dos cidadãos. Nem são poucos — numa sobrevivência garantida pelo suborno de agentes do Estado — os cassinos espalhados pelo país.
Os argumentos a favor da legalização vão da criação de empregos ao estímulo do turismo, em concorrência com os cassinos que prosperam em países vizinhos. Na mais recente tentativa de permitir o jogo, quatro anos atrás, um projeto de legalização dos bingos teve apoio de um número considerável de deputados. Apoiava-se principalmente na destinação para a saúde pública de uma parte considerável dos impostos pagos pelas casas de jogo. Nem assim teve vida longa: morreu numa gaveta qualquer e não se falou mais nisso.
Esse episódio, e outros parecidos, sugerem aos mais pessimistas a possibilidade de existir em Brasília um lobby secreto contra qualquer forma de liberação do jogo. Ou seja, os donos dos cassinos não se sentiriam ameaçados pela repressão do Estado — exercida, digamos assim, sem grande entusiasmo e com limitada competência. Devo reconhecer que nenhum dado objetivo justifica essa tese. Deve ser paranoia minha.
No fim das contas, temos um problema bastante sério e bastante antigo, enfrentado de forma incompetente pelo Estado. E podem apostar: ele se torna mais grave na medida em que essa incompetência sequer é reconhecida.
Um comentário:
O SR Garcia esquece de um aspecto importante, a jogatina desenfreada é patrocinada pelo governo que detém o monopólio desta atividade através da Caixa e similares.
Assim como nas eleições, a falta de controle rígido do processamento de dados certamente acoberta malfeitos de grande envergadura financeira.
Vide a repetida premiação das super-megassenas em pequenas cidades estatisticamente inviáveis.
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