segunda-feira, 23 de abril de 2012

Demóstenes no Senado


Para outros senadores, presença do colega sob investigação tornou-se constrangedora


O Senador Demóstenes Torres, (sem partido-GO), ex-líder do DEM, no Plenário do Senado
Foto: Ailton de Freitas / Agência O Globo
O Senador Demóstenes Torres, (sem partido-GO), ex-líder do DEM, no Plenário do SenadoAILTON DE FREITAS / AGÊNCIA O GLOBO
BRASÍLIA. Aos poucos, o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) abandona a reclusão a que se impõs depois que veio à tona sua relação com o bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. Mas seu humor ainda passa por altos e baixos. Desde que começou, em 23 de março, a divulgação das gravações feitas pela Polícia Federal de suas conversas telefônicas com o bicheiro, o senador, cuja autoconfiança beirava a arrogância, deu lugar a uma pessoa extremamente abatida e arredia, de acordo com relatos de quem teve contato com ele nessa fase.
No momento em que estava se reerguendo e já havia tomado a decisão de voltar à rotina no Senado, sofreu novo baque, no sábado passado (14), com o aparecimento do irmão, o procurador-geral de Justiça de Goiás, Benedito Torres Filho, no escândalo.
No Senado, onde enfrenta processo no Conselho de Ética que pode resultar na cassação de seu mandato, a maior solidariedade tem vindo, ironicamente, dos que já foram vítimas de sua verve inflamada: o líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), e o presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP). O próprio Demóstenes espera uma revanche.
— Eu fui tão sacana com você e você está sendo tão legal comigo — disse Demóstenes para Renan, em conversa recente, referindo-se ao processo de cassação enfrentado pelo peemedebista em 2007, quando foi acusado de ter despesas pessoais pagas por uma empreiteira.
— Imagina, temos que nos preocupar com a instituição (o Senado) — respondeu Renan, de acordo com pessoas próximas.
Sarney também foi cordial com o colega e o recebeu no gabinete da presidência do Senado há 11 dias. No fim do ano passado, os dois protagonizaram um bate-boca em plenário, quando Demóstenes, de forma agressiva, questionou a condução da sessão e Sarney partiu para cima dele, com dedo em riste. Depois, Demóstenes pediu desculpas a Sarney.
Demóstenes contou a terceiros que o presidente do Senado o recebeu bem e foi gentil, contrariando suas expectativas Após o encontro, Sarney afirmou que ele foi dizer que não ia renunciar ao mandato e que é inocente. E nenhuma opinião emitiu sobre as suspeitas que pesam sobre o antigo desafeto.
O senador, que é procurador de Justiça, tem reuniões diárias com a equipe que o ajuda a construir sua defesa. Durante o dia, os encontros são no escritório do advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay. À noite, ocorrem no apartamento funcional de Demóstenes.
No dia a dia, depois de registrar presença em plenário, cumprimentar os colegas e enfrentar o cerco da imprensa, Demóstenes tem ficado de duas a três horas em seu gabinete. Ele tem mantido as viagens para Goiânia, onde mora sua mulher, às sextas-feiras, retornando a Brasília às segundas ou terças pela manhã, como fazia antes.
O senador tem se mostrado pesaroso com a desconstrução de sua imagem de defensor da ética. Ao se deparar com um visitante contemplando as charges e caricaturas que enfeitam a parede de seu gabinete no Senado, nas quais ele aparece como um paladino da moralidade, Demóstenes o interrompeu:
— Isso acabou, esse Demóstenes não existe mais.
Na semana passada, imprimindo uma nova rotina, Demóstenes ligou para todos os senadores colocando-se à disposição para prestar esclarecimentos, independentemente da defesa prévia que apresentará nesta quarta-feira no Conselho de Ética. Nas duas últimas semanas, ele fez três aparições públicas: uma em reunião do Conselho de Ética e duas no plenário do Senado, durante a sessão.
A presença de Demóstenes provoca reações diversas nos demais senadores. Alguns, como o líder do PT, Walter Pinheiro (BA), ficam irritados com sua aparente desenvoltura. Há quem reaja com naturalidade, mas outros dizem ficar extremamente constrangidos. O grupo dos éticos, que tinha Demóstenes como expoente, se sentiu traído pela dupla militância do goiano.
Foram justamente os senadores Pedro Taques (PDT-DF) e Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), do grupo dos éticos, que convenceram Demóstenes a subir à tribuna, no dia 6 de março, para explicar a cozinha que ganhara de presente de casamento de Cachoeira, e que se revelou apenas a ponta do iceberg.


  

2 comentários:

Alberto disse...

Após o assassinato de César, a volta de um dos assassinos ao Senado Romano também foi melancólica.
A resistência de Marco Antônio e Otávio forçaram Brutus a fugir e ao tentar voltar com um exército foi derrotado e perdeu a vida.
Aguardamos o exílio de Demóstenes para o bem do Senado Brasileiro.

Osires disse...

O homem devia ficar em casa, escondido embaixo da cama. se, naturalmente ele tivesse um pouco de vergonha!