terça-feira, 23 de setembro de 2008

Espermatozóides Aposentados



O leitor Lauredson Fagundes postou a seguinte pergunta:
Vc poderia explicar melhor essa historia de espermatozóide aposentado?
Abraços.

Prezado Lauredson,
Em 1971 eu tinha 31 anos e, como diria a personagem Copélia do Toma lá, Dá Cá, por razões que eu prefiro não comentar, resolvi fazer a operação de vasectomia. Esta esterilização masculina não era muito conhecida e pouco comentada. Quem fazia, não contava, porque havia uma falsa impressão que pudesse afetar o desempenho sexual masculino, causando problemas de ereção.
Quando me decidi pela cirurgia, falei com um amigo que fizera há dois meses e o que ele me relatou é que, por questões meramente psicológicas, seu desempenho havia melhorado muito, pois tinham acabado aqueles desagradáveis problemas decorrentes de outros métodos usados para evitar a gravidez.
A operação foi mais simples do que a extração de um siso que resolvera travar uma batalha com o dentista, há duas semanas. Fui para casa dirigindo meu carro.
Dez dias depois, seguindo a orientação do urologista, fui fazer um espermograma para ver se estava tudo em ordem, ou seja, se eu me tinha tornado estéril.
Entrei no laboratório às 8 da manhã, antes de ir para o trabalho, de terno e gravata. Entreguei o pedido do médico à recepcionista, ela me encaminhou a outra moça que me deu um vidro.
- O Senhor entra naquele banheiro e colhe o material.
- Material ? Que material ?
- O senhor veio fazer um espermograma. Que material o senhor acha que é preciso recolher ?
- Eu não estou em jejum, algum problema ?
Ela preferiu não responder.
Tive a impressão de que as cinco ou seis pessoas me vendo passar no caminho para o banheiro estavam pensando: Lá vai ele se masturbar, às 8 da manhã e de terno e gravata... Mas o olhar suave de uma senhora foi mais gratificante para minha fantasia: Vai, meu rapaz, nós estamos torcendo por você.
O banheiro era um cubículo de um metro quadrado, cheio de caixas de papelão e a única posição possível para colher o material era de frente para o espelho. Era a primeira vez que ia fazer isso, olhando para mim mesmo. Não vou conseguir, pensei. E pensei mais: Em sair, voltar à chatinha da moça e pedir uma revista pornô, ou, melhor ainda, alguém que me ajudasse.
Estava demorando demais e minha imaginação continuou me perturbando: Eu já ouvia baterem à porta, reclamando: E aí ? Vai ficar a manhã toda ?
Depois achei que a circunferência da boca do recipiente era muito pequena para o que fora fazer.
Finalmente, aleluia !
Quando saí do cubículo, o auditório de 5 ou 6 pessoas, que já era de 10 pessoas, aplaudiu entusiasticamente, mas, felizmente, não pediu bis.
Em resumo, Lauredson, expressei-me mal. Meus espermatozóides não se aposentaram. Eles foram premiados por longos anos de serviços prestados. Serviços da mais alta competência.

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