sábado, 27 de setembro de 2008

Debate Água com Açúcar



O primeiro debate presidencial entre BarackObama e JohnMcCain, realizado na noite de sexta-feira, na Universidade do Mississippi, na cidade de Oxford, foi dominado por dois temas centrais: a crise finaceira que assola os EUA e a guerra no Iraque. No primeiro ponto, os candidatos democrata e republicano não foram capazes de responder às principais perguntas dos americanos sobre o que esperar no curto e no médio prazo e repetiram as preocupações já manifestadas desde que os problemas começaram, com o caso da Lehman Brothers. Quanto ao conflito no Oriente Médio, McCain destacou que os EUA estão vencendo a guerra, mas Obama criticou os republicanos por, segundo ele, concentrarem os esforços no Iraque e se esquecerem de agir no Afeganistão.
De acordo com pesquisa realizada pela rede CBS logo após o debate, Obama foi o vencedor do encontro, com 40% da preferência dos telespectadores, contra 32% de McCain - 8% entenderam que houve empate.
O debate, mediado por Jim Lehrer, âncora da PBS, durou 1 hora e meia, período em que Obama se mostrou um melhor orador e McCain evitou encarar e interagir com o democrata, apesar dos pedidos insistentes do moderador. Apesar de mornas no campo econômico, as discussões serviram para marcar bem a diferença entre os dois postulantes ao cargo mais importante na Casa Branca. Abaixo, estão os principais pontos abordados no encontro em Oxford
Crise financeira
O primeiro ponto discutido no debate entre Obama e McCain foi a crise que ameaça pôr em colapso o sistema financeiro americano.
- Estamos passando pela maior crise financeira desde a Grande Depressão (1929). A classe média está lutando e isso vai ter impacto em todos os segmentos da sociedade. Temos que agir rápido e de forma inteligente. Defendo propostas para proteger os contribuintes(...) Este é o veredicto de oito anos de política falhas que tiveram apoio do senador McCain - afirmou o candidato democrata, o primeiro a falar.
McCain preferiu destacar as próximas negociações entre democratas e republicanos:
- Vemos republicanos e democratas se reunindo para chegar a uma solução para esta crise. Vemos pessoas perdendo seu crédito, seu emprego, sua residência. Mas vemos também republicanos e democratas negociando um pacote, que tem que ser transparente(...) Este não é começo do fim da crise é o fim do começo, se chegarmos ao pacote.
Os dois expressaram que devem votar a favor do plano de ajuda do governo americano ao sistema financeiro dos EUA (liberação de até US$ 700 bilhões para recomprar os ativos podres acumulados pelos bancos com a crise de créditos). Obama chegou a afirmar que há cerca de dois anos avisou que o país teria problemas por conta dos empréstimos. Ele afirmou ter escrito ao secretário do Departamento do Tesouro, Henry Paulson, para saber se ele estava a par dos problemas que poderiam surgir.
O senador republicano John McCainn também afirmou ter alertado para a situação das agências hipotecárias Fannie Mae e Freddie Mac - que passaram para o controle do governo americano na semana passada.
- A ganância e o excesso são recompensados em Wall Street - disse.
Impostos
Um dos principais pontos de atrito entre democratas e republicanos - a política fiscal - foi abordada no início do embate. Obama disse que vai atacar benefícios fiscais concedidos a empresas e executivos, o que, segundo, ele, tem sido uma prática republicana.
- Temos que desenvolver a economia de baixo para cima - comentou.
McCain rebateu dizendo que Obama não se preocupou com isso nos seus três primeiros anos no Congresso.
Obama retrucou:
- Vou tirar os benefícios de empresas que estão levando os empregos para fora dos EUA(...) Quando você beneficia as pessoas que estão bem de vida você deixa para trás muitas pessoas que estão lutando(...) Se você ganha menos de 250 mil por ano não vai ter nenhum aumento de imposto.
McCain declarou que vai cortar impostos para empresas que são grandes empregadoras a fim de mantê-las nos EUA. Alfinetando o oponente, o republicano disse que Obama já votou pelo aumento de impostos para quem recebe mais de 42 mil por ano.
- É preciso ver o histórico de cada um. Obama já mudou de opinião.
Iraque
Coube ao conflito no Iraque registrar os momentos mais acalorados do debate. O candidato republicano comentou que, depois de alguns percalços, as forças dos EUA estão vencendo a guerra, enquanto Obama criticou que o país tem dado atenção excessiva ao Iraque e abandonado o vizinho Afeganistão.
- Quando entramos no Iraque todos celebraram. Depois a guerra foi mal-dirigida. Criamos então uma estratégia bem-sucedida. Estamos vencendo, vamos voltar para casa com honra. Veremos um aliado estável e uma democracia que vai se desenvolver. A conseqüência da derrota seria o aumento da influência iraniana na região. Vamos voltar para casa como fizemos em outras guerras, sem derrota - declarou McCain.
Obama rebateu:
- Para mim a questão é: Será que deveríamos ter nos envolvido nesta guerra? Eu me opus a esta guerra até porque não havíamos terminado o trabalho no Afeganistão. Mas McCain e presidente Bush não pensavam assim. Já gastamos US$ 600 bilhões e perdemos o foco. Ainda estamos gastando US$ 10 bilhões por mês, em um momento de grandes dificuldades domésticas(...) Acho que lição a ser aprendida aqui é que nunca devemos hesitar para usar a força militar, mas devemos usar de forma inteligente. Não foi o caso do Iraque.
- O senador Obama se recusa a admitir que estamos vencendo no Iraque - provocou McCain.
O democrata foi rápido:
- Não é verdade, não é verdade(...) Quando a guerra começou, você disse que ela seria rápida e fácil. Você disse que sabíamos onde as armas de destruição em massa estavam (uma alusão ao principal argumento da Casa Branca para a invasão do Iraque em março de 2003).
McCain alfinetou, destacando a pouca experiência de Obama em política externa:
- O senador Obama não foi ao Iraque por 900 dias.
Afeganistão e Paquistão
Obama repetiu as críticas que vem fazendo quanto ao conflito no Iraque. Segundo ele, não se pode discutir o tema sem falar no problema do Afeganistão:
- Precisamos de mais tropas (no Afeganistão), e acho que temos que fazer isso o mais rapidamente possível. Comandantes no local dizem que a situação só faz piorar. O Talibã está atacando nossas tropas, eles estão se sentindo fortalecidos. Não podemos separar o Afeganistão do Iraque. Temos quatro vezes mais tropas no Iraque do que no Afeganistão. A maior ameaça aos EUA é o terrorismo. O secretário de Defesa, Robert Gates, disse que temos que combater isso no Afeganistão e no Paquistão(...) Precisamos combater os portos seguros da Al-Qaeda.
- A mesma estratégia usada no Iraque, que ele (Obama) tanto condena, tem que ser usada no Afeganistão - disse McCain. - Precisamos mandar mais tropas(...) O Paquistão é certamente um elemento importante - acrescentou o republicano, acusando Obama de haver proposto um ataque ao Paquistão. Obama respondeu prontamente:
- Não defendi um ataque ao Paquistão. Disse que deveríamos confrontá-lo caso não contemos com eles na luta contra o terror. Estivemos do lado de um ditador (Pervez Musharraf, que já deixou o poder) e acabamos perdendo a legitimidade no Paquistão.
(O Globo on line)

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