sábado, 30 de agosto de 2008

Filosofando às 3 da Madrugada


Numa noite insone, às 3 horas, tento um recurso já recomendado por mais de um amigo. Pegar um livro bem chato e começar a ler. Foi o que fiz. Apanhei O Alquimista, de Paulo Coelho, leitura que já tentara uma porção de vezes e, em cada vez, me sentindo um alienado literário por não conseguir passar da vigésima página de um livro escrito por um autor que, dizem, já vendeu mais de 30 milhões de exemplares. Fui até a página cinqüenta e seis, mas o sono recusou-se a acompanhar.
Sem qualquer esperança, apelei para a TV, remédio infalível para a insônia da maioria das poessoas. Não para mim. Não me dá sono. Me irritam a mediocidade dos filmes, a deterioação das cópias e, o pior dos mundos, a dublagem.

Tudo bem. Desisto do sono e penso em ligar para o psiquiatra, para, de sacanagem acordá-lo e reclamar que os comprimidos de Rivotril não estão fazendo qualquer efeito. Não o faço porque não vai adiantar. Ele vai dizer que estava acordado (e provavelmente estava mesmo) e ia fazer a pergunta fatal, ou seja, se eu estava tomando a dose certa. Eu não estava.

Vou à cozinha para pegar algo para comer e o imã na porta me dá uma boa sugestão. Pedir na locadora um dvd.

Peço Luzes da Ribalta que assisti pela primeira vez em 1952, no então recém inaugurado cinema Leblon. O mensageiro, com cara de sono, me entrega o filme e começo a filsofar. Vi quando tinha 12 anos e adorei. E agora, com 67 ? Vou achar uma babaquice, uma novela lacrimejante da Globo ?

Não, o filme continua ótimo.

O segundo item da minha jornada filosófica prossegue quando Calvero, (foto) o personagem interpretado pelo genial Charles Chaplin, exortando a bailarina (Claire Bloom), depois de salvá-la da morte por suicídio, a aceitar a vida como ela é (interpretação minha que sou fã do Nelson Rodrigues) diz:

- A vida é tão inevitável quanto a morte.

Aos prantos - não é grave, eu choro até em Hino Nacional da Bolívia - eu me pergunto: Será ? Não, não é. A morte, sim, é inevitável e por enquanto. Talvez não venha a ser para os bisnetos de nossos bisnetos. Eles trocarão um fígado avariado por um de titânio, um pulmão enfizemático por um de alumínio e, no lugar do coração, poderão colocar um chip. Certamente vão viver 300 anos, o que, cá para nós, vai ser uma chatice.

Mas a vida é evitável, seja pela forma grosseira, de mau gosto, cafona, brega, do suicídio, seja pela simples desistência de viver (Raul Seixas: Pára o mundo que eu quero descer).

Quando acabei de filosofar, lembrei dos meus tempos de ginásio (era assim que se chamava na década de 50), fui à Internet e achei o que procurava:

Quem passou pela vida em branca nuvem
E em plácido repouso adormeceu;
Quem não sentiu o frio da desgraça,
Quem passou pela vida e não sofreu,
Foi espectro de homem - não foi homem,
Só passou pela vida - não viveu.

(Francisco Otaviano)

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