quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Vida e Morte das Estrelas - Alberto del Castillo

PREÂMBULO

É muito difícil planejar e executar projetos de políticas de desenvolvimento nacional sustentável. Muitas vezes as paixões se sobrepõem a uma análise cuidadosa do comportamento das variáveis que definem as prioridades dos interesses nacionais.
Nas últimas décadas a opção entre a presença maior ou menor do Estado nas economias de nosso planeta deu origem a um debate apaixonado.
Neste debate as posturas adotadas por vários governos eram discutidas e analisadas na busca de uma solução global para os problemas sociais e econômicos de nosso planeta.
Ficou evidente que a busca do Santo Graal de uma solução global não era um objetivo factível. Esta chave mágica era utópica pelo simples fato do ponto de partida (a realidade presente) dos diversos países não serem congruentes.
A batalha entre os defensores do governo controlador e os defensores do livre mercado sem amarras se acirrava à medida que soluções de um ou outro matiz apresentavam acertos e erros em função de como e onde estas idéias fossem aplicadas.
Um divisor de águas foi o período dos governos Thatcher e Reagan e o momento catalisador da derrubada do Muro de Berlim.
Neste momento, as teses liberais defendidas pela Escola de Chicago (Milton Friedmann) e formalizada nos conceitos enunciados pelo documento “Consenso de Washington” direcionavam o mundo para uma retirada acelerada da presença do Estado na economia através de medidas de desregulamentação que ampliavam a liberdade de ação dos agentes econômicos.
Os efeitos negativos desta desregulamentação foram atribuídos pelos defensores do Estado à globalização dos meios de comunicação e a consequente dinâmica de um mercado integrado sem controles adequados.
O grande progresso tecnológico criado pela globalização passou a ser o vilão social para os políticos de esquerda.
O acentuado crescimento com redução de despesas governamentais dos parceiros EEUU e Inglaterra indicavam um caso de sucesso a ser seguido e países como a Rússia e a China que iniciaram um processo de abertura econômica foram exemplos dos equívocos passados da economia fechada na mão do estado.
Esta filosofia monitorada pelo FMI, realinhou países em fase de desenvolvimento em campanhas de redução da inflação e controle da dívida externa que estrangulavam investimentos na região.
Estava implantada a era da supremacia das leis de mercado sobre a estatização da economia. Esta lua de mel teve curta duração pelos altos riscos agregados a operações financeiras crescentes em progressão geométrica apoiadas nos elevados índices de alavancagem (relação entre valores circulantes e garantias reais disponíveis) praticados livremente pela falta de regulamentação do mercado global.
Com o estouro das crises financeiras no Oriente (Japão, Coréia do Sul e Singapura), na América Latina (México, Argentina, Brasil etc.) além de vários países do Velho Mundo (Rússia etc.) a supervisão do FMI perdeu credibilidade e os rombos foram negociados caso a caso sem a rigidez tradicional do Banco.
Estes eventos ressuscitaram antigos anseios por uma maior presença do Estado para sanear a economia, mas com a superação da crise dos anos 80 e início de 90 os defensores do livre mercado prevaleceram e somente com a recente megacrise do sistema imobiliário voltou o clamor para que governos absorvessem prejuízos e comprassem companhias quebradas.
A crise está minando a confiança do consumidor em todo mundo e com raríssimas exceções os países estão numa recessão tão violenta que não podemos prever quando o PIB voltará a crescer em nossa economia
Estamos vivendo tempos em que o governo dos EEUU, defensor emblemático do livre mercado, está injetando recursos públicos em companhias quebradas e assumindo o controle acionário de gigantes como a GM como garantia de seus investimentos.
Será que finalmente resolvemos à charada? A intervenção do governo é verdadeiramente condição “sine qua non” para uma economia saudável?
Em retrospecto vemos que a balança ora pende para um lado ora para outro. Que fazer? Estudar a situação caso a caso e buscar a melhor solução, independentemente de preferências ideológicas, é a única saída.
Seguir cegamente uma receita pode funcionar para a confecção de bolos e afins, mas na vida do dia a dia é um risco inaceitável.
Quando questionado se sou da esquerda ou da direita, se sou favorável ao livre mercado ou à estatização pergunto qual o problema a resolver.

A ESTRELA

A Petrobras fundada na década de 50 é um exemplo vivo da alternância de fatores de mercado influenciando diretamente a gestão da empresa ao longo do tempo. No momento de sua criação a produção de petróleo era desprezível e os recursos necessários para o desenvolvimento da companhia estavam acima das possibilidades do capital nacional. O capital estrangeiro estava investido nos campos gigantes do Oriente Médio e do Norte da África e as grandes companhias só teriam interesse em investir no refino e na distribuição de combustíveis em nosso país sem desenvolver atividades de pesquisa muito mais onerosas aqui do que nos países Árabes. A única solução possível era a intervenção do Estado investindo a fundo perdido os recursos necessários para a criação do monopólio do petróleo.
Com a contratação de técnicos estrangeiros e o treinamento no exterior de técnicos nacionais nasceu a Petrobrás graças a investimentos estatais. O geofísico chefe da Standard Oil foi contratado a peso de ouro para formar uma equipe de geólogos capazes de ampliar a precisão de nossos mapas propiciando assim o início das perfurações exploratórias. As conclusões deste trabalho foram compiladas num documento, o “Relatório Link”.
O relatório sugeria o desenvolvimento da produção dos campos existentes e a exploração de poucas regiões promissoras encontradas no levantamento inicial. A grande possibilidade de sucesso estava em nossa plataforma marítima e o Brasil deveria investir pesadamente nesta área logo que a tecnologia estivesse disponível. A precisão destas observações dos anos cinqüenta está evidente hoje com a produção nacional vindo quase toda do mar e as tentativas de aventuras em áreas não projetadas terem gerado prejuízos como a Paulipetro criada pelo governador Maluf em uma de suas manobras de cunho político.
Nos anos 60 a produção cresceu pouco a pouco e aguardando a tecnologia de exploração no mar, os investimentos foram direcionados para refinarias e para a promissora indústria petroquímica. Para abreviar a absorção tecnológica da petroquímica foi criado o modelo de empresa tripartite. O capital seria distribuído, igualmente, entre a empresa estrangeira detentora da tecnologia, uma empresa brasileira e o estado.
O sucesso do modelo resultou numa indústria poderosa, integrada no mercado internacional e grande geradora de impostos e internação de divisas através das exportações.
Hoje atingimos praticamente a auto-suficiência em petróleo e a companhia é a maior do Brasil.
Porque será então que ao atender ao telefone a Chefe da Casa Civil o Presidente da Petrobras caiu em prantos?
Será porque estão usando recursos da Petrobras para obras do governo que nada tem a ver com os objetivos da companhia? Será porque a Petrobras está compelida a doar fundos para empresas apadrinhadas pelo governo? Será porque as concorrentes não sofrendo estes ataques de rapinagem em seus cofres estarão cada vez mais fortes diante de uma Petrobras cada vez mais fraca?
Será que o próprio governo que a criou esta provocando a destruição da companhia?

CONCLUSÃO

O que está acontecendo com a Petrobras é a réplica do nascimento e morte de uma estrela.
No início a poeira cósmica e gases de hidrogênio são comprimidos pela força da gravidade até chegarem a uma temperatura que possibilite a fusão nuclear dos átomos de hidrogênio que ao se transformarem em átomos de hélio desprendem energia para contrabalançar e eventualmente equilibrar a força da gravidade evitando assim o colapso da estrela. Esta é a situação do nosso sol.
Com o passar do tempo, todo o hidrogênio estará consumido e a gravidade, sem encontrar resistência, comprimirá ainda mais a estrela até que a temperaturas mais altas os átomos de hélio iniciem o processo de fusão nuclear. Esta energia contrabalançará a gravidade e a estrela sobreviverá até que sejam consumidos os átomos de hélio.
Ao término da fusão dos átomos de hélio chegamos ao fim da vida da estrela, pois os produtos resultantes da fusão do hélio têm ponto de fusão muito elevado para serem atingidos. No final com a vitória da gravidade a estrela explodirá semeando novos elementos como carbono, nitrogênio, ferro e outros, necessários à construção do universo. Daí a célebre frase de Carl Sagan, “Nós não passamos de poeira de estrelas”.
O Estado é a gravidade da estrela Petrobras. Ele a criou e está provocando o seu fim. Temos esperança que após a explosão, os elementos que restarem da companhia beneficiem nosso país e não alguma galáxia afastada.

Um comentário:

AAreal disse...

Muito bom o texto do del Castillo.
Com pesar aprendo que o Hélio nem se compara ao Lula em poder de fusão.
A célebre frase de Carl Sagan, “Nós não passamos de poeira de estrelas” realmente se aplica tbm agora.
Só que, no caso, essa estrela é a do PT.