quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Rififi Começou no Senado



Numa mudança de comportamento estrategicamente calculada e discutida nas últimas horas que antecederam o fim do recesso parlamentar, o grupo político do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), partiu para o ataque como último recurso para sair das cordas e tentar manter o poder na Casa. Mas essa tática só terá efeito se o presidente Lula conseguir segurar o apoio da bancada de senadores do PT. Caso contrário, os peemedebistas reconhecem que a situação ficará muito difícil de sustentar. Nessas conversas com aliados, Sarney reconheceu que a tentativa de entendimento com a oposição não dera resultado. Concluíram, então, que o senador não poderia mais ficar acuado. E a ordem é: se cair, cair atirando.
- Estamos no centro de um furacão, e todos os senadores estão nele. Ou o furacão vai sumir, ou vai pegar quem não estiver no centro dele - advertiu Wellington Salgado (PMDB-MG).
" Estamos no centro de um furacão, e todos os senadores estão nele. Ou o furacão vai sumir, ou vai pegar quem não estiver no centro dele "
- A saída de Sarney não é solução para o Senado. Isso não existe - disse o líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), antes de ir ao ataque no plenário. Renúncia ainda pode ser avaliada
Mas a renúncia passará a ser analisada caso o grupo conclua que não tem mais votos suficientes para barrar um processo de cassação no Senado. É aí que a bancada de 12 senadores do PT é considerada fundamental.
Embora Lula tenha dito que não mais atuará pessoalmente junto à bancada petista, durante toda a segunda-feira houve mobilização de setores do Planalto e do comando do PT para tentar afinar o discurso dos senadores. A tendência é que, na reunião desta terça-feira, a bancada mantenha a posição de pedir a licença do presidente do Senado. Oito dos 12 votos petistas apoiam essa tese.
Estava previsto para segunda-feira um jantar entre senadores do PT e do PMDB, convocado pelo ministro das Relações Institucionais, José Múcio. Foram convidados os líderes do PT, Aloizio Mercadante (SP); do PMDB, Renan Calheiros (AL); do PTB, Gim Argello (DF); e a líder do governo no Congresso, Ideli Salvati (PT-SC). Ao mesmo tempo, na cúpula do PT e no Planalto, há preocupação de não expor mais o partido. PT vai insistir no afastamento temporário
Mercadante confirmou reunião da bancada, nesta terça, com o presidente do PT, Ricardo Berzoini (SP). Mesmo assim, os senadores Flávio Arns (PT-SC) e Eduardo Suplicy (PT-SP) defenderam o afastamento de Sarney em plenário.
- A bancada do partido havia decidido pelo afastamento do presidente Sarney, mas há uma tentativa repetida de jogar a bancada do Senado contra a opinião pública, dizendo que ela é dúbia. Não existe essa palavra: enquadramento - disse Arns.
- Seria positivo o presidente Sarney se afastar por um período que ele considerar adequado para realizar sua defesa - disse Suplicy.
Os petistas insistirão no afastamento temporário, mas não falarão em renúncia. Na bancada, estão fechados com o Planalto Delcídio Amaral (MS), João Pedro (AM), Serys Slhessarenko (MT) e Ideli. Ao responder à pergunta sobre a crise, Mercadante afirmou:
- O momento é de construir uma agenda positiva para o país.
A estratégia do PMDB foi confirmada na noite de domingo, quando Sarney recebeu em casa o advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, que será o responsável por sua defesa no Conselho de Ética. Sarney ficou otimista com o que ouviu.
- Do ponto de vista jurídico, a situação do senador Sarney é tranquila. As representações contra ele são tecnicamente frágil - disse o advogado.
Depois de passar boa parte do dia em seu gabinete, de onde assistiu ao embate no plenário, Sarney saiu à noite reafirmando que estava "muito tranquilo". Mas integrantes da Executiva do PMDB já admitem um desgaste irreversível.

(Foto: Renan Calheiros e Sarney)

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