Cardeais começam encontros informais em Roma, e nome de dom Odilo cresce nas conversas
- Decisões são tomadas em cafés e restaurantes, a portas fechadas
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ROMA — Os cardeais que se reunirão para o conclave a portas fechadas na Capela Sistina nos próximos dias devem se inspirar no Espírito Santo, segundo a tradição da Igreja Católica, e não na política terrena. Mas o carrossel de candidatos que já gira em Roma leva para a Europa as maiores chances. Não só pelo fato de que 60 dos 115 cardeais eleitores sejam do Velho Continente, mas porque os nomes mais fortes se encontram ali - como o arcebispo de Budapeste, Peter Erdö, ou seus colegas de Viena, Christoph Schönborn, e de Milão, Angelo Scola. Além dos europeus, uma surpresa é o nome do brasileiro dom Odilo Scherer, também entre os mais cotados.
- Não há tecnicamente nenhuma campanha ostensiva - disse ao jornal “Huffington Post” o padre Thomas Reese, autor de “Por dentro do Vaticano: A Política e Organização da Igreja Católica”. - As campanhas públicas para o papado são desaprovadas e qualquer cardeal que as fizesse não poderia conseguir o cargo.Na capital italiana, começaram surgir nesta sexta-feira cartazes que promovem o ganês Peter Turkson. Os pôsteres foram colados sobre anúncios usados pelos candidatos das eleições italianas, que aconteceram esta semana. Mas, diferentemente das eleições parlamentares, os candidatos ao papado não podem realizar campanhas públicas, o que sugere que os cartazes foram colocados por apoiadores do ganês.
Mas em reuniões secretas, o nome do brasileiro dom Odilo Scherer começa a ganhar força, segundo o jornal “La Stampa” - o fator idade, ele tem 63 anos, seria um dos seus grandes trunfos. Um dos grupos que o apoiariam seria o dos americanos, que destacam a necessidade de o pontificado sair da Europa para que a Igreja tenha sua força renovada.
- Brasileiro, de origem alemã (agradável ao camerlengo Tarcisio Bertone), arcebispo de São Paulo, tem experiência na Cúria Romana e uma doutrina sólida. Ele também tem familiaridade com questões financeiras, sendo um dos cinco cardeais que supervisiona as atividades do Banco do Vaticano - especulou o vaticanista Giacomo Galeazzi.
Para a imprensa local, o austríaco Schönborn também é um dos favoritos, por ser um seguidor de Joseph Ratzinger - não se pode esquecer que mais da metade dos cardeais foram nomeados durante os oito anos do pontificado de Bento XVI.
Nesta sexta-feira, o decano do Colégio de Cardeais, Angelo Sodano, despachou aos colegas, uns por fax, outros por e-mail, a carta com a primeira convocação para as “congregações gerais” que terão início na segunda-feira. As reuniões antecedem a abertura do conclave e se arrastam até a chegada de todos os 115 eleitores cheguem a Roma - sendo, segundo analistas, mais importantes que o próprio conclave.
Papável: Estão fumando muita maconha
Muitos não escondem a ansiedade.
- Todo mundo, eu também, quer um conclave o mais rápido possível. Sentimos falta do Papa e queremos um novo. E temos todos um emprego para o qual queremos retornar - disse o cardeal nova iorquino Timothy Dolan.
Considerado um dos papáveis, ele desconversou quando questionado sobre um eventual favoritismo.
- Eu disse a quem acha isso que estão bebendo muito ou fumando muita maconha - afirmou à CNN. - Estou honrado que as pessoas pensem assim, mas não apostaria nisso.
Na quinta-feira, o Vaticano confirmou que a primeira congregação acontecerá no dia 4 de março. A partir dessa data, a Santa Sé poderá anunciar a qualquer momento quando será o início das votações que irão escolher o próximo Sumo Pontífice. Prontas, as 106 suítes e 22 quartos simples da Casa de Santa Marta, onde se hospedarão os cardeais, serão sorteadas aos eleitores. E a um mês da Páscoa, o tempo pesa. Se em 2005, as “congregações gerais” ocorriam somente de manhã, o convite enviado nesta sexta-feira previa duas sessões na segunda-feira num indício de que o Vaticano quer muitas discussões em pouco tempo.
Nos encontros, todos os cardeais do Colégio, incluindo aqueles maiores de 80 anos, sem direito a voto, debatem os temas cruciais da Igreja na Sala do Sínodo. Nos intervalos, dá-se a oportunidade para que os cardeais se conheçam pessoalmente. Almoços e jantares viram networking - onde possíveis alianças visando ao voto podem surgir.
- O que os cardeais vão dizer publicamente são generalidades sobre que tipo de Papa eles querem. Talvez alguém do Terceiro Mundo ou um bom comunicador. Mas a politicagem real acontece em jantares e cafés a portas fechadas, em como os cardeais se sentem em relação aos outros, nas perguntas que mostrarão quem será o melhor sucessor do Papa - explicou Reese.
Apesar das previsões, um antigo ditado romano diz que campanha ou prognósticos sobre o conclave não acabam bem: “Aquele que entra no conclave como Papa, sai como cardeal”.
2 comentários:
A eleição de Dom Odilo Scherer na situação atual da Igreja seria uma tragédia. Mais um ultra- conservador num momento de necessidade de abertura agravaria o relacionamento precário do Vaticano com o povo de Deus.
Torcemos que o novo Papa seja um Leão XIV ou um João XXIV.
A Igreja precisa renovar em meio à atual crise.
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