quarta-feira, 28 de abril de 2010

O Dono da Festa - Luiz Garcia


Com a cabeça fria, diz um ditado, digere-se melhor a vingança. Mas, dias passados, não estou aqui para desforras. Portanto, nenhuma palavra de recriminação contra o prefeito Eduardo Paes por ter permitido, sem prévias e indispensáveis precauções, o espantoso espetáculo do Dia de Tiradentes.
Ele pode ter sido enganado, ou se iludido sozinho, quanto à quantidade de pessoas que a Igreja Universal - a mais poderosa de todas as denominações protestantes no país e aquela com mais visíveis ambições políticas (nenhuma outra ocupa uma cadeira no Senado) - planejava levar para a Enseada de Botafogo. Não era ele o dono da festa, apenas cedia o salão. Deveria, quem sabe, informar-se melhor sobre quem o alugava.
O eleitor carioca não tem memória curta, o que é má notícia para o prefeito. Problema dele. A seu favor ou contra - depende da visão de cada um sobre sua autoridade - deve-se reconhecer que a dona solitária da festa era a entidade político-assistencialista-religiosa (em ordem crescente de importância visível) que atende pelo nome ambicioso de Igreja Universal. Em linguagem mais rebuscada, foi ela a mandante do caos.
Terá sido um espetáculo de fé religiosa ? Até certo ponto, é inegável que sim. Havia mais devoção na plateia do que no palanque ? Não tenho resposta para isso. Mas certamente o evento tinha óbvias características de demonstração de força política. O beneficiário imediato era o senador Marcelo Crivella. (foto) Sobrinho do proprietário da Universal, ele comanda, por assim dizer, o braço político da entidade.
Outra dúvida: Crivella ganhou votos e prestígio popular com o evento de quarta-feira ? Pesou mais na balança o número extraordinário de fiéis-eleitores que penou na romaria, ou a quantidade considerável de outros cidadãos que sofreram as consequências de um evento tão mal organizado ? E com objetivos políticos talvez, quem sabe, mais importantes do que os de um espetáculo de fé religiosa ?
Não cabe ao cidadão carioca responder a esse monte de perguntas. Interessa-lhe apenas mandar um recado à autoridade municipal: outra brincadeira de mau gosto como essa, por favor. nunca mais. Faz sentido voltar ao assunto: no jornal de ontem, o citado Crivella anuncia que fará tudo de novo, igualzinho, no ano que vem. Como se fosse, além de dono da festa, dono da cidade.

2 comentários:

Alberto del Castillo disse...

Nesta mazomba completa o único que não tem culpa é o pobre cidadão que mesmo pagando impostos exorbitantes é atendido com um serviço de última categoria.

AAreal disse...

Vejam que loucura.
Nesse local, só pode evento na terra. Nos céus, não pode. Pode festa da Igreja e não pode corrida de aviões.
Espero que a corrida de submarinos ainda possa.